No sábado, 26 de agosto, aconteceu, na Escola Estadual Nair Mendes Moreira, a Mostra Cultural Literária “Ética e Cidadania”, como culminância do projeto intitulado “Ler é o Caminho da Liberdade!”. Trata-se de um projeto interdisciplinar desenvolvido pela escola visando a conscientização da importância do ato de ler, envolvendo as diversas áreas do saber.
Os alunos do terceiro ano do Ensino Médio desenvolveram trabalhos sobre a história e a obra de Frida Kahlo (1907-1954), importante pintora mexicana do séc. XX cuja vida foi marcada por circunstâncias diversas, tais como a poliomielite, o acidente de bonde, as inúmeras intervenções cirúrgicas, as 30 operações reparadoras, os abortos, a traição do marido Diego Rivera (1886- 1957) com Cristina, sua irmã mais nova, e a luta pelo direito das mulheres, bem como pela livre orientação política e sexual das mesmas.
Após o estudo da biografia da artista, os alunos produziram revistas em quadrinhos em espanhol, nas quais foram retratadas algumas fases da vida de Frida Kahlo, descritas no parágrafo anterior. Além disso, foi feita uma apresentação de dança com a música da Shakira, tema do filme Frida, e outra com a música da Beyonce retratando o empoderamento feminino.
Ao longo do bimestre os alunos tiveram contato com diversos textos com a temática do feminicídio e da violência contra a mulher. Os discentes pesquisaram sobre o feminicídio, sobre as taxas deste no Brasil e no mundo, e elencaram os tipos de violência mais comuns sofridas pelas mulheres, tais como obstetra, física, sexual, mental etc. Além disso, pesquisaram exemplos de mulheres que sofreram algum tipo de violência em todo o mundo e recompilaram fotos e reportagens sobre elas.
Depois desse estudo, os alunos produziram, nas aulas de língua espanhola, cartazes e propagandas de incentivo à denúncia de relações abusivas, preconceituosas e violentas contra as mulheres. Esses cartazes foram utilizados em uma marcha feminista, ocorrida no mesmo dia da culminância do projeto, chamando a atenção pelas fotos de mulheres vítimas de violência e pelas frases de efeito.
Os alunos do segundo ano do Ensino Médio desenvolveram trabalhos em literatura a partir do livro “Os miseráveis”, de Victor Hugo. Além de produzirem cartazes retratando a obra, criaram também revistas em quadrinhos sobre o assunto. O vício e abuso das drogas foi outra temática abordada pelos alunos, sendo esse o momento mais emocionante do projeto, visto que um dos alunos produziu a letra de um rap com cunho autobiográfico, retratando a sua vida na presença de um pai viciado que acabou na cadeia, encontrando-se recluso há mais de dez anos, privando-o do convívio familiar. Outro aluno do segundo ano, de apurado gosto musical, propôs o trabalho com um coral formado pelos próprios alunos a fim de acompanharem o rap, cuja letra e história foi contada.
No contexto do Ensino Fundamental, foi realizado o projeto “Leitura Infanto-juvenil” com base nas obras “Atrás da Estação Ferroviária fica o Mar”, de Jutta Richter; “A Morena da Estação”, de Ignácio de Loyola Brandão; “A Mocinha do Mercado Central”, de Stela Maris Rezende. Os discentes produziram maquetes relacionadas ao tema da transposição do Rio São Francisco e estudaram as doenças do solo. Os jovens do sexto e do sétimo ano também criaram maquetes, analisaram fábulas, contos, folclore, lendas, histórias em quadrinhos, FIQ NAIR, a arte dos origamis (8ª e 9ª anos) e até a obra “Sítio do Picapau Amarelo”, de Monteiro Lobato.
A EJA, turno noturno, trabalhou alguns momentos históricos através dos poemas de Cecília Meirelles, já a Educação Integral trabalhou com poesias e sonhos, bonequinha de lata, magistério e temas que fazem parte da nossa grade do currículo escolar, como bullying, gravidez na adolescência, preconceito, feminicídio, drogas, racismo, desigualdades, mulheres e negros etc. Alunos de toda a comunidade escolar mostraram seus talentos e habilidades.
O projeto “Ler é o Caminho da Liberdade!”, bem como a Mostra Cultural Literária “Ética e Cidadania”, contou com a valorização e participação, direta ou indireta, de toda a comunidade escolar, que se mostrou engajada no desenvolvimento dos projetos e na sua culminância. O trabalho de toda a escola através das leituras sobre a diversidade social contribuiu para o sucesso do projeto, que contou com apresentações de crianças, desfile de alunos do Ensino Médio, exposição de trabalhos, confecção de banners, apresentações musicais, apresentação de rap e de coral, leitura e releitura de textos literários, apresentações de dança rítmica, produção de cartazes, confecção e exposição de material sobre o folclore brasileiro e suas lendas, produção de livros, apresentação teatral, produção de maquetes, realização de entrevistas, oficinas de origami, elaboração de histórias em quadrinhos.
Trata-se, portanto, de um trabalho que não se restringe a um bimestre e tampouco à sala de aula, mas que ecoa em todo o processo escolar, inspirando a história de vida de nossos alunos.
Depoimentos
No Brasil, o cenário que mais nos preocupa é do feminicídio, que muitas vezes é cometido pelo próprio parceiro íntimo, em contexto de violência doméstica e familiar, geralmente precedido por outras formas de violência e podendo ser evitado. Com uma taxa de 4,8 assassinatos em 100 mil mulheres, o Brasil está entre os países com maior índice de homicídios femininos – ocupa a quinta posição em um ranking de 83 nações – segundo dados do Mapa da violência de 2015 (Cabela/Flacso). O silêncio é apontado como um caminho seguro para 92% das vítimas de agressão (esposa/companheira), que ocorre com frequência, podendo acabar em assassinato. Ou seja: o risco de morte por violência doméstica é iminente e assustador.Thatiana Barcelos, professora de Língua Espanhola
Meu nome é Carlos Daniel, conhecido artisticamente como Kiu Mc. Tive a oportunidade de participar do projeto “Drogas”, e foi ótimo poder usar um pouco do que eu sei, do que eu já vivi para conscientizar os jovens. Eu tive um exemplo dentro da minha casa, nunca foi fácil na madrugada ver minha mãe chorar, ver meu pai gastando o dinheiro que íamos precisar para a manutenção do “lar”, se é que eu posso chamar assim onde eu vivi. Ver brigas, discussões, crime e polícia a todo momento foi horrível para a criança que eu era, mas às vezes vejo isso tudo como algo motivador.
Tive motivos para ser só mais um no crime, na vida, na escola, na rua, ser só mais um seguindo a maré, deixando a vida me levar, mas eu peguei os meus motivos e comecei a colocar no papel, como fiz nesse projeto, escrevendo rap, que sempre esteve presente na minha vida. Posso lembrar como se fosse ontem eu jogando fliperama no bar ouvindo grupos do tipo Facção Central, Racionais, Nd Naldinho e 509E.
Eu acredito que esse projeto ajudou muitos jovens na escola a perceberem o que realmente o mundo das drogas causa a uma pessoa e a sua família, ajudou a voltarem a acreditar nos seus sonhos, pois eu sempre acreditei e a vida nunca me deu tantas esperanças para isso. Eu não sou O CARA, mas eu tento ser o melhor de mim para dar orgulho a quem me ama. Apesar de tudo, eu amo meu pai, que foi o exemplo que eu citei. Hoje ele faz parte da população carcerária e, ainda assim, acredito que ele pode sair de lá diferente.
Carlos Daniel, aluno do 2ª ano Ensino médio
Meu nome é Kennedy Oliveira, tenho 16 anos, sou violinista e atual produtor da música sobre o projeto. Foi um prazer trabalhar com o Kiu e fazer com que os alunos entendam os malefícios que as drogas trazem! Essa ideia veio da professora de Arte da escola, que nos motivou a passarmos essa informação através da música, que eu tanto amo. Eu e o Kiu, em conjunto com outros músicos muito talentosos, formamos um coral de 120 alunos. Ensaiamos o arranjo da música para que todos executassem com muita perfeição! Os instrumentos que foram usados são vistos no dia a dia deles e tentei aproximar o máximo possível do RAP, mas não esquecendo do clássico e da MPB. Fizemos uma junção desses ritmos para que pudéssemos passar essa informação em primeira mão. Espero ter conseguido passá-la para os alunos presentes.
Kennedy Oliveira, aluno do 2 º ano do Ensino Médio
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Adaptado de:
Luciene Aparecida Elias Ferreira
Diretora Escolar
E.E. Nair Mendes Moreira – Contagem / MG
Imagem: freepik.com
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