Minas Gerais foi e continua sendo palco de muitas histórias, muitas das quais protagonizadas por mulheres que, nascidas ou não por aqui, mexeram com as emoções do nosso povo, chegando até mesmo a inspirar grandes obras no cenário artístico, o que passa pela literatura, pela música, pelo teatro e até pela teledramaturgia. Quem poderia imaginar que uma famigerada escrava de Diamantina ou uma provocante cortesã de Araxá lançaria grandes atrizes no cenário nacional? Quem diria que uma jovem ouropretana fosse mexer com um moço português ao ponto de inspirar-lhe os versos que compõem uma das obras máximas do Arcadismo? Quem poderia prever que uma pernambucana simples, ao pisar na capital mineira, levaria a nossa zona boêmia ao conhecimento nacional?
São histórias – e estórias – que não apresentam grandes feitos, mas que nos revelam mulheres para lá de especiais pelo simples fato de haverem vivido as suas vidas como bem desejaram. Histórias que, como todas, são cheias de idas e vindas, perdas e ganhos, sabores e dissabores, e sempre marcadas pelo amor.
Francisca da Silva de Oliveira
Francisca da Silva de Oliveira (1732-1796), comumente conhecida como Chica da Silva, foi uma escrava, posteriormente alforriada. Filha de um homem branco e uma escrava, nasceu na cidade do Serro e viveu no Arraial do Tijuco, atual Diamantina, durante a segunda metade do século XVIII. A união estável com o contratador dos diamantes João Fernandes de Oliveira, bem como o fato de haver atingido posição de destaque na sociedade local durante o apogeu da exploração de diamantes, originou uma série de mitos. É notória em sua biografia a ascensão social e o respeito conquistados por Chica na preconceituosa sociedade do Brasil colonial. Tanto que, mesmo depois da partida do contratador dos diamantes para Portugal, seguiu gozando de regalias exclusivas dos brancos, vivendo confortavelmente até os seus últimos dias. A história da “escrava que virou rainha” foi narrada por meio de biografias e produções cinematográficas. Mas foi a telenovela Xica da Silva, produzida pela extinta Rede Manchete, e exibida pela primeira vez em 1996, que tornou popularmente conhecida essa personagem histórica, embora a produção se pretendesse ficcional, sem compromisso com a verdade.Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão
Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão (1767-1853) foi uma das mulheres envolvidas na Inconfidência Mineira e noiva do inconfidente, jurista e poeta Tomás Antônio Gonzaga, que, supostamente, eternizou-a nos versos de Marília de Dirceu. Não há, de fato, uma biografia confiável sobre Maria Doroteia, sendo que tudo o que sabemos sobre ela tem como base a biografia de Tomás Antônio Gonzaga, assim como seus versos, embora os mesmos não tenham valor documental. Um dos mitos acerca do romance entre o poeta e a jovem ouro-pretana afirma que, retornando para Minas Gerais, após 21 anos residindo em Portugal, Gonzaga é nomeado Ouvidor dos Defuntos e Ausentes da comarca de Vila Rica. Estima-se que, somente após um ano de sua chegada a essa cidade, tenha conhecido a Maria Doroteia, então adolescente de apenas quinze anos, por quem se apaixona sem muita demora. O que é tido como principal empecilho para esse romance é a deportação do poeta, primeiro para o Rio de Janeiro, devido às suspeitas de conspiração por parte do mesmo, e depois para a costa oriental da África, em 1792. Nesse mesmo ano, é publicada, em Portugal, a primeira parte de Marília de Dirceu, obra que viria a imortalizar a jovem Maria Dorotéia, que, conta-se, amou o poeta português até o fim de sua vida. Maria Doroteia foi interpretada pela atriz Maria Isabel de Lizandra na telenovela Dez Vidas, de 1969, bem como por Margarida Rey e Giulia Gam nos filmes Os Inconfidentes (1972) e Tiradentes (1999), respectivamente.Ana Jacinta de São José
Ana Jacinta de São José (1800-1873), conhecida como Dona Beja, nasceu em Formiga, tornando-se uma personalidade influente no século XIX na região de Araxá, para onde migrou com a mãe e o avô aos cinco anos de idade. Revelando rara beleza à medida que se tornava mulher, foi apelidada pelo avô de Beja, como referência à doçura e à beleza da flor “beijo”, também conhecida como beijinho ou maria-sem-vergonha. O seu comportamento, inadequado ao seu tempo, acabou levando-a a ser marginalizada pela sociedade da época. Não obstante, e inclusive graças à fortuna acumulada em Paracatu durante o relacionamento forçado com o ouvidor do Rei, Joaquim Inácio Silveira da Motta, ela conseguiu viver dignamente a despeito da resistência social à sua pessoa. A sua vida inspirou a telenovela brasileira produzida pela Rede Manchete, Dona Beija, exibida pela primeira vez em 1986.Hilda Maia Valentim
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Texto: Alex Gabriel da Silva
Imagem capa: Capa da edição da Martin Claret
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